Quem matou Roland Barthes? é o título de um romance de Laurent Binet, publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2016. Binet recebeu em 2010 o Prêmio Goncourt por seu romance de estreia, HHhH.Teria muito a falar do livro, mas vou me restringir a comentar apenas o título, porque ele me chamou a atenção.
Títulos são contextualizadores prospectivos, isso significa que sinalizam ao leitor o que ele vai encontrar, ou seja, os títulos, de certa forma, antecipam o assunto tratado. Nos dias de hoje em que a literatura é também um negócio, o título deve ser “vendável”. A propósito, lembro-me de um filme excelente do Sydney Pollack, estrelado pela Jane Fonda, They shoot horses, d’ont they?, ou seja, Eles atiram em cavalos, não?. No Brasil, no entanto, o filme se chamou A noite dos desesperados. Evidentemente, uma jogada de marketing, já que A noite dos desesperados é bem mais vendável que Eles matam cavalos, não?.
No caso do filme de Pollack, o título em português, ao contrário do título original, não tem nada a ver com o filme. Quem assistiu ao filme sabe isso. As Edições 70, de Portugal, publicaram um livro de Julia Kristeva. Na capa, o nome História da linguagem. Quem comprou o livro esperando ler uma história da linguagem se decepcionou. As Edições 70 simplesmente deram um título à obra em português que não tem nada a ver com o original, que é La langag, cet inconnu, ou seja, A linguagem, esta desconhecida.
Quanto ao Quem matou Roland Barthes?, o título dado no Brasil não corresponde a uma tradução do título original francês, que é La Septième Fonction du Langage, ou seja, A sétima função da linguagem. Título enigmático para o leitor comum, na medida em que remete às funções da linguagem propostas pelo linguista russo Roman Jakobson, que são seis: emotiva, conativa, referencial, fática, metalinguística e poética.
No livro, Barthes, ao morrer, estaria de posse de um documento que conteria a sétima função da linguagem, que seria capaz de convencer qualquer um de qualquer coisa, algo como um ato de fala perlocucional. Evidentemente, na escolha do título em português observou-se o critério mercadológico. O título original é melhor, mas o título em português não compromete, no entanto reforça apenas um dos aspectos do livro, que é o de ser uma narrativa de mistério. No entanto, o livro é muito mais que isso. É uma narrativa inteligente, com passagens cômicas, com referências não só a Barthes, mas também a Saussure e Jakobson e que tem como personagens figuras expoentes como Foucault, Kristeva, Eco, Althusser, Deleuze, Derrida, Searle, entre outros, numa interessante reconstrução do clima que dominava as universidades da Paris dos anos 1960.