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Se for verdadeira, essa questão deve ter aparecido numa prova de matemática. Acho que não é, mas serve de mote para um artigo.
O(a) professor(a) pedia que se fizesse uma operação bastante simples: converter centímetros em metros.
Metro é a unidade padrão, que apresenta múltiplos e submúltiplos. O conhecimento de alguns elementos gregos que formam palavras compostas em português ajuda muito a entender isso. Vamos a eles. Usam-se para exprimir múltiplos:
Kilo = mil, o símbolo é k;
Hecto = cem, símbolo é h;
Deca = dez, símbolo é da.
Para exprimir submúltiplos, usamos:
Deci = a décima parte, ou 1/10, símbolo é d;
Cent = a centésima parte, ou 1/100, o símbolo é c;
Mili = a milésima parte, ou 1/1000, o símbolo é m.
A resposta, em princípio, seria simples, pois se 1 centímetro corresponde à centésima parte do metrô (1/100), 180 cm (centímetros) corresponde a 180/100 ou 1,80 m ou ainda 1 metro e 80 centímetros, ou popularmente, 1 metro e 80. Onde está o erro do aluno? Segundo o(a) professor está no fato de ele ter respondido qual é a altura dele (aluno) em metros e não a altura do jogador.
Mas foi exatamente isso que o(a) professor(a) perguntou objetivamente? Será que a pergunta foi formulada de modo claro de sorte a deixar clara a resposta pretendida?
Entendo que não. Vejamos: o pronome possessivo SEU e suas variações podem deixar as frases ambíguas, isto é, com duplo sentido. Isso porque, embora seja um pronome de 3a. pessoa, pode ser usado em referência ao interlocutor, ou seja, à pessoa com quem se fala, como em Você conhece muito bem seu potencial. Como se pode observar, o pronome você, no português brasileiro atual, está substituindo o pronome tu, ou seja, usamos o pronome você para nos referirmos àquele com quem falamos, segunda pessoa, embora gramaticalmente seja um pronome de terceira pessoa.
Na canção Língua, de Caetano Veloso, há um verso que diz “Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo”. Caetano chama a atenção de que na língua da TV Globo o seu e o sua são trocados pelo dele e dela. Por quê? Evidentemente para evitar a duplicidade de sentidos.
Ao perguntar ao aluno Qual é sua altura em metros, este entendeu que o(a) professor(a) queria saber qual a altura dele, aluno, e deu a resposta.
Você poderia argumentar: mas o contexto do problema indica que o(a) professor(a) queria saber a altura em metros do jogador de basquete e não a do aluno. Verdade, mas se a matemática tem por fundamento o rigor, isso deveria orientar a redação do enunciado, evitando que a questão pudesse levar a leituras diferentes.
Enfim, a questão está muito mal formulada. Um jogador de basquete cuja altura é 1,80 cm não é um bom exemplo, a menos, é claro, que se trate de um atleta da categoria sub 17, que está disputando o torneio juvenil.