O homem que veio de longe

Tempo de leitura: 2 minutos

Publica-se muito no Brasil, então os leitores temos de fazer rigorosa seleção do que se vai ler. Para quem não gosta de jogar tempo fora e pretende ler o que se tem publicado da melhor literatura brasileira contemporânea, não pense duas vezes, leia os romances e contos de Ronaldo Correia de Brito.

Ronaldo nasceu em 1950, é cearense, de Saboeiro, é formado em Medicina em Recife, cidade em que mora atualmente. É autor de romances e de contos. Foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura com o romance Galileia.

Dos inúmeros contos do médico cearense. Meu preferido é “O homem que veio de longe”, primeiro conto de Livro dos Homens (Cosac Naify, 2005). É a história de um morto que aparece em Monte Alverne, região do Cariri, trazido pelo caudaloso rio Jaguaribe. O morto é um homem bem vestido, abotoaduras de prata, um valioso anel. Tem três furos de bala no peito e está sem os olhos. Quem era? Quem o matara?

A população o enterrara embaixo de uma árvore e guardara o anel e as abotoaduras. Enterrado, o desconhecido ganhou uma nome. “Sebastião dos Ferros”, Sebastião em homenagem ao santo e “dos Ferros” por causa da árvore sob a qual fora enterrada (uma oiticica em que os vaqueiros marcavam com ferro suas iniciais). A população aguardava que São Sebastião dos Ferros desse sinais, que falasse. E o santo “fala”, operando alguns “milagres”.

Certo dia, um homem, Pedro Miranda, que se dirigia a para Icó, resolve pernoitar em Monte Alverne e ouve a população falar da vida do “santo” e dos inumeráveis milagres que operara. Indaga sobre o morto: quer saber minúcias, como se vestia. Quando falaram do anel e das abotoaduras, o visitante estremeceu. Pedro diz à população que tinham sido enganados, que o morto não era santo, mas Domísio Justino, um assassino covarde que matara sua irmã.

Pedro, para vingar a irmã, matara o falso santo com três tiros. Pede para ver os objetos do morto, mas a população regateia e sugere que ele vá dormir, pois deveria estar cansado, já que viera de longe. “Um relâmpago cortou o céu. Choveu a noite inteira e o Jaguaribe botou enchente. Pareceu o dia que encontraram o corpo do santo. As águas barrentas e profundas. Na medida certa para arrastarem outro corpo”.

PS. : Todos os contos de O Livro dos Homens são muito bons. Escolhi “O homem que veio de longe” por razões de ordem subjetiva. Chamo a atenção ainda para o conto “Brincar com veneno”. Nele, temos a história de Heitor, casada com Leocádia, mulher que cria cobras venenosas e que proíbe que se alimente Caronte, um cavalo, para que ele morra de fome. Por que ela age com tanto sadismo? Apenas no final do conto as coisas se esclarecem de maneira surpreendente. Num próximo posto, comentarei o conto “Brincar com veneno”.

2 Comentários


  1. Só um adendo: a cidade natal de Ronaldo Correia de Brito, no Ceará, chama-se Saboeiro e não Sobreiro. Abraço.

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    1. Valeu, Carlos pela atenta observação. De fato é mesmo Saboeiro. Devo ter digitado errado ou o maldito corretor automático resolveu trocar Saboeiro por Sobreiro.
      Já corrigi no post.
      Um abraço.
      Ernani.

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