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Neste artigo falo de O mexicano, de Jack London. O conto foi publicado pela primeira vez em 1911, no contexto da Revolução Mexicana, iniciada um ano antes. No Brasil, O mexicano está publicado no livro Nocaute: cinco histórias de boxe, numa bela edição da Editora Benvirá.
Como toda narrativa, O mexicano caracteriza-se pelo caráter polêmico: o percurso de duas personagens que se opõem, Felipe Rivera e Danny Ward. O primeiro, mexicano, quieto, de pele mais escura, pobre, frio como o gelo; o segundo, americano, falador, branco, já endinheirado e explosivo. Do mexicano humilde, sabe-se pouco. Até seus companheiros da Junta, uma organização revolucionária, desconhecem quem é Rivera, como vive e como arruma o dinheiro que dá sempre à organização.
As personagens se encontram numa luta de boxe em que Rivera é chamado para substituir um lutador que não poderá enfrentar o favorito Ward, como programado. Rivera, que, ao contrário de Ward, não é um lutador profissional, aceita participar da luta com uma única condição: a bolsa ficaria integralmente ao vencedor. Pretende ganhar a luta e o dinheiro para doar à Junta para a compra de fuzis.
O encontro é marcado. Ginásio lotado, apostas feitas e todos, público, técnicos, juiz, Ward, inclusive, acreditam num massacre logo no primeiro round, mas Rivera surpreende a todos, dando sinais de que poderia vencer a luta. O ódio move os lutadores. O juiz, técnicos, segundos começam a interferir para manipular no resultado a fim de dar a vitória a Ward. Todos estão contra o mexicano. A luta chega ao final quando Rivera olha a plateia ensandecida e vê em cada um deles um fuzil apontado para ele.
Sim, a luta no ringue chega ao final, mas a luta de Rivera não. A leitura do conto nos mostra o que essas duas personagens figurativizam. Portanto, há uma outra luta, e essa não se desenrola no ringue. O que acontece no tablado é a metáfora do que acontece numa sociedade marcada pelo preconceito, pela intolerância (Ward se refere a Rivera como cucaracho), pela arrogância dos “poderosos”, pela corrupção, pelo menosprezo, pela alienação. Só há uma coisa mais triste que isso: ver que o público aplaude em delírio tudo isso e pede, aos berros, que Ward mate o cucaracho.
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Nooooossa!
Que contaço, Ernani!
Vou atrás já!
Obrigada pela dica!
Abraço