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Júlia Consuetude, assim que se bacharelou em Latim numa universidade pública, casou-se com seu vizinho, Daniel Frígido, caixa no Banco do Brasil, de quem era namorada desde que era uma núbil adolescente de libidinosos desejos que até Vênus reprovaria.
Júlia Consuetude, excelente aluna na graduação, foi admitida no doutorado em literatura latina. Sua paixão era Ovídio e esperava que alguma metamorfose tornasse seu gemebundo marido menos tépido e burocrático.
Não mais suportando as prolongadas crises de abstinência do consorte, procurou um advogado e deu início ao processo de divórcio. Na audiência de tentativa de conciliação, o juiz perguntou a Júlia o motivo que a levava a pedir a dissolução da sociedade conjugal.
Júlia Consuetude disse, com voz tíbia, que o casal tinha um sério problema de incompatibilidade religiosa descoberto logo após o casamento.
O magistrado, surpreso com o fundamento do pedido, pediu a ela que se explicasse melhor. Serena, mas desta feita com voz firme, Júlia Consuetude disse que, desde que contraíra núpcias, seu marido raríssimas vezes se dignou prestar as devidas homenagens a Vênus.
O divórcio foi concedido.
ACTA EST FABULA.