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Narrativo, narrativa, narração, narrador são palavras que se prendem a narrar, que significa contar algo, verdadeiro ou não, por meio de uma linguagem qualquer.
A origem das narrativas se confunde com a história da humanidade. Narrativas fazem parte da cultura de todos os povos, mesmo os não letrados. O semiólogo francês Roland Barthes (1915 – 1980), num texto chamado Introdução à análise estrutural da narrativa, afirma que “não há em parte alguma povo alguma sem narrativa; todas as classes, todos o grupos humanos têm suas narrativas”.
As narrativas se manifestam em textos de diversos gêneros, sejam verbais, como contos, romances, notícias, relatos, biografias, anedotas etc., sejam não verbais ou sincréticos, como filmes, charges, memes, histórias em quadrinhos, canções, etc.
Na definição de narrar, ressaltei que aquilo que é narrado pode ser verdadeiro (a notícia de um acidente nuclear na Ucrânia, por exemplo) ou não, como num conto de fadas, por exemplo; por isso temos dois grandes grupos de narrativas: as ficcionais e as não ficcionais. As primeiras se manifestam em gêneros da esfera literária como o romance, a novela e o conto; as segundas, em gêneros como a notícia, a reportagem, o diário, a biografia e constituem os chamados relatos.
Narrativa ficcional
Nos textos narrativos ficcionais, há uma situação inicial e uma situação final diferente da inicial. Entre esses dois estágios, há uma série de acontecimentos responsáveis por mudanças de estado de personagens, como você pode observar no esquema abaixo.
Esquema 1
Usei o termo personagem e não pessoa, pois estou no campo das narrativas ficcionais. Personagens são criações do autor da narrativa, são seres de papel, ou seja, não têm existência real, embora possam ser construídas com base em pessoas reais.
O texto narrativo ficcional se caracteriza pela sucessão de acontecimentos no tempo. Há um começo e um fim, vale dizer, há um antes e um depois, ou seja, há temporalidade. Os acontecimentos narrados ocorrem no tempo: um após o outro, embora possam ser narrados não na ordem temporal em que ocorreram de fato, pois pode haver retornos (flashbacks) ou avanços na matéria narrada. Em outros casos, como ocorre em algumas narrativas intimistas, o tempo psicológico prevalece sobre o cronológico.
O linguista Jean-Michel Adam, no livro A linguística textual: introdução à análise textual dos discurso, afirma que o tipo textual narrativo apresenta:
- uma sucessão de eventos que ocorrem no tempo e que mantêm entre si relações de causa e feito;
- pelo menos um personagem;
- uma intriga;
- uma avaliação.
Comento, a seguir, os itens apresentados por Adam.
- Os eventos de que se compõe o texto narrativo encadeiam-se por relações temporais (há sempre um antes e um depois) e relações de causa e consequência. O encadeamento dos eventos confere unidade temática à narrativa;
- narrativas são criações humanas, feitas por humanos e que tratam de valores humanos. Lembre-se de que todos os povos, mesmo os iletrados, têm narrativas. Os eventos de que se constituem as narrativas referem-se a personagens humanos ou antropomorfizados, como nas fábulas. Em algumas narrativas, o personagem pode estar em sincretismo com o narrador, aquele que conta a história;
- damos o nome de intriga ao conjunto de acontecimentos encadeados entre si, de modo que haja um conflito que se intensifica chegando ao seu ponto mais elevado, denominado clímax. Ao clímax, segue-se a resolução do conflito. A intriga confere dramaticidade ao(s) personagem(ns). Para que haja narrativa, é obrigatório que haja uma intriga, pois é ela que estabelece a distinção entre narrativa e um simples relato de um fato;
- a avaliação, que também é chamada de sanção, consiste na manifestação explícita ou implícita de um juízo de valor, por exemplo, se o personagem cumpriu o que era proposto (sanção cognitiva), podendo ser recompensado ou punido (sanção pragmática). A sanção é também o momento da narrativa em que os segredos são revelados.
Estrutura do texto narrativo ficcional
Um texto narrativo prototípico apresenta a seguinte estrutura: há uma situação inicial, marcada pelo equilíbrio, que é alterada por ação de alguém ou de algo, provocando mudanças de estado (complicação), segue-se uma série de ações decorrentes dessa transformação que atingirão um ponto mais alto (clímax), segue-se a resolução do conflito, terminando numa situação final, caracterizada por um novo estado de equilíbrio.
Reformulo o esquema 1 anteriormente apresentado, a fim de que você possa visualizar as etapas do texto narrativo.
Esquema 2
O texto narrativo não ficcional
As narrativas não ficcionais apresentam uma estrutura bem mais simples do que as ficcionais, na medida em que se fixam no relato de um fato (o que ocorreu) sem organizá-lo numa intriga. Não há, pois, complicação, nem clímax. Nas narrativas literárias, o narrador pode retardar o desfecho, criando um clima de suspense, por exemplo. As narrativas não literárias concentram-se na narração do fato e tendem a objetividade na medida em que procuram narrar o fato da forma como ocorreu, por isso não costuma haver ruptura da ordem cronológica, o que significa que há uma ordem temporal rígida na narração normalmente do passado para o presente. Nas narrativas literárias, é comum a subversão da ordem cronológica. Um dos recursos mais comuns usados para isso é interromper a sequência lógica dos fatos para esclarecer algo que ocorreu no passado ou para antecipar algo que ainda não aconteceu.
Nas narrativas não ficcionais, também não há avaliação. Relata-se o fato, procurando não emitir juízos de valor sobre ele ou tentando explicar por que se agiu de forma A e não B. Uma notícia de jornal é um exemplo típico de narrativa não ficcional, pois aquele que a redige deve passar uma visão o mais objetiva possível dos fatos sem avaliações. Acrescento que a objetividade nos textos é apenas um efeito de sentido, pois todo texto traz reflete os valores e crenças daquele que o produziu, bem como da sociedade de que faz parte.
As narrativas não ficcionais procuram responder às seguintes perguntas:
- Quem? (o(s) participante (s) do acontecimento narrado);
- Fez o quê? (o fato relato, a ação, o acontecimento);
- Quando? (Indica o tempo);
- Onde? (Indica o lugar);
- Por quê? (Indica a causa, isto é, o motivo pelo qual o(s) participante (s) agiu (agiram) dessa forma);
- Como? (Indica o modo como o(s) participante (s) realizou (realizaram) a ação.
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Sempre um texto leve e profundo, seus paradoxos, Ernani.
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Oi Inês, quanto tempo? Tudo bem com você? Saudades.