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O verbo ser é normalmente usado para estabelecer uma relação entre um sujeito (A) e um predicativo (B), por isso é chamado de verbo de ligação. Dessa forma, o termo que segue diretamente o verbo ser é predicativo. Em construções como “A é (era, foi, será, tinha sido) B”, B é o predicativo; A é o sujeito.
Assim, numa construção simples e direta, colocamos o predicativo após o verbo ser. Dessa forma dizemos: “Meu maior desejo no momento é minha aprovação”; “Minha decepção foi a sua desistência”.
O predicativo (e outros termos) pode ser expresso por uma oração. Assim, posso escrever: Meu maior desejo no momento é que eu seja aprovado; Minha decepção era que você desistisse. A oração introduzida pela conjunção (que) é chamada de predicativa, porque exerce a função de predicativo. Observe que ela se coloca após o verbo ser.
A oração predicativa pode não estar introduzida pela conjunção. Nesse caso, o verbo estará no infinitivo. Essa oração é conhecida como reduzida. Feita essa breve introdução, comento uma construção cada vez mais frequente em textos. Para usar uma expressão da moda, trata-se de uma construção que viralizou, podendo ser observada em textos das mais diversas esferas discursivas.
Em vez da construção simples e direta (verbo ser seguido de predicativo), intercala-se um “o(a) de” no meio do caminho, resultando construções como: Meu maior desejo no momento é o de que eu seja aprovado; Minha decepção era a de que você desistisse.
Observe que esse “o(a) de” entre o verbo ser e o predicativo, representado pelas orações iniciadas pela conjunção (que), poderia ser suprimido sem prejuízo algum ao sentido, resultando numa construção mais direta e concisa.
Como afirmei, essa construção que se vale do torneio sintático, “o de” (e suas flexões), passou a ser mais frequente na imprensa do que a construção direta (é que, era que, foi que, será que etc.) e já pode ser observada também em textos de outras esferas, como se pode observar nos exemplos a seguir colhidos em textos vários.
O raciocínio clássico de pais que reclamam o direito de não vacinar os filhos é o de que o Estado não pode passar por cima de suas crenças mais essenciais.
A outra é a de que o novo coronavírus funcione…
Uma terceira suspeita é a de que os pacientes voltaram a ter uma nova doença…
Minha percepção é a de que a maioria dos defensores das liberdades individuais…”
A primeira é a de que as comparações são feitas pelo momento de cada jogador. A segunda é a de que nem sempre um time que tem mais jogadores superiores…
Uma ideia fundamental de Hjelmslev é a de que…
Esse rumor era o de que Bartleby fora funcionário subalterno…
Uma das reflexões que costumavam me acompanhar nessas caminhadas era a de que seria adorável de súbito deparar com outra pessoa.”
Como disse, isso ocorre também em construções com o verbo no infinitivo, sem a conjunção que, portanto. Diz-se
A tarefa que nos aguarda é a de voltar…
A tarefa deste artigo é a de apontar a importância…
Em vez de A tarefa que nos aguarda é voltar… e A tarefa deste artigo de apontar a importância…
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Até aí tudo bem. Mas ontem na CBN ouvi expressões, tais como ( estou inventando; mas na velô do erro): ” Observamos *de que a consequência do Bolsonaro não usar máscara….`´; ou ” O projeto quer de* que todos lutem para conseguir superar as dificuldades”.
Não conhecem mais o verbo – tão singelo! fofo!- transitivo direto.
Serão mudanças ou decadências?
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Na CBN, uma rádio de alcance nacional! Estamos mal.