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Em artigo anterior em que discutia a “diferença” entre antonomásia e perífrase, destaquei que, a rigor, as figuras de retórica podem ser resumidas a apenas duas: a metáfora, quando a transposição de significado decorre de uma relação de semelhança, e a metonímia, quando a alteração de significado decorre de uma relação de contiguidade, isto é, de proximidade. Ressalto ainda que, nas figuras de retórica, o que ocorre é um excedente de significado, já que ao sentido original agrega(m)-se outro(s). Alguns autores fazem uma distinção entre metonímia e sinédoque. No artigo, defendo que a diferença entre elas não é de todo relevante, por isso prefiro usar apenas o termo metonímia, por englobar o de sinédoque.
A metonímia, assim como a metáfora, consiste numa transposição de significado, isto é, uma palavra que usualmente designa uma coisa passa a designar outra, acrescenta-se ao sentido original um outro sentido. Na metonímia, a transposição de significado não é feita, como na metáfora, com base em traços de semelhança, e sim por uma relação lógica de proximidade entre os termos (a parte pelo todo, o autor pela obra, o efeito pela causa, o continente pelo conteúdo, o instrumento pela pessoa que o utiliza, o concreto pelo abstrato, o lugar pelo produto, o gênero pela espécie, o singular pelo plural, o particular pelo geral, etc.), como se pode observar nos exemplos que seguem.
Não tinha teto em que se abrigasse. (Teto em lugar de casa = parte pelo todo.)
Procurou no Aurélio o significado daquela palavra. (Aurélio em lugar de dicionário = autor pela obra.)
“Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto.” (Machado de Assis)
(Pão no lugar de alimento = o particular pelo geral; suor do meu rosto no lugar de trabalho = o efeito pela causa.)
Como afirmei, há autores distinguem metonímia de sinédoque. Consideram a figura como sinédoque quando a relação entre os termos é quantitativa, ou seja, pelo aumento ou diminuição da significação de uma palavra, ou segundo Du Marsais, citado por Fiorin¹, “…quando um implica o mais e o outro, o menos ou vice-versa”. As relações entre os termos são basicamente as seguintes: parte pelo todo, singular pelo plural, gênero pela espécie, o particular pelo geral (ou vice-versa).
Consideram a figura como metonímia quando a relação entre os termos é qualitativa. Na metonímia, há uma implicação entre os conceitos que decorre de uma relação de contiguidade entre eles. As relações entre os termos são: a causa pelo efeito, o continente pelo conteúdo, o autor pela obra, o lugar pelo produto, o instrumento pela pessoa que o utiliza, etc.
Há um caso de metonímia que ocorre em nomes próprios. É o caso de artistas que incorporam ao seu nome o nome do instrumento que utilizam: Paulinho da Viola, Jacó do Bandolim, Nélson Cavaquinho, Jackson do Pandeiro.
Como se pode notar, a diferença entre metonímia e sinédoque é bastante sutil e a distinção que se faz entre elas não é de todo relevante. Como o conceito de metonímia abarca o de sinédoque, a maioria dos autores, ao contrário do que acontecia antigamente, não faz mais a distinção entre essas duas figuras, preferindo usar o nome metonímia para designar a figura de linguagem em que a transposição de significado decorre de uma relação de contiguidade material ou conceitual existente entre os termos. É essa a posição que adoto.
- FIORIN, José Luiz. Em busca do sentido: estudos discursivos. São Paulo: Contexto, 2008, p. 74.
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A sinédoque parece nome de doença crônica. Evito.
E a metonímia, prova de nossa leseira, preguiça. Penso que os primeiros grupos humanos foram andando andando, olhando o sol, mar, pedra e nomeando, nomeando… Uns na preguiça já sentando em cócoras, outros, deitados olhando estrelas ou na modorra. E, pra cortar caminho e fazer sobrar tempo pra tirar mais uma pestana, embolaram raízes, colarem sentidos, instituíram associações mal ajambradas. E, em vez de recipiente contendo macarrão, os vagabundos e trambiqueiros fizeram puxadinho com retalho de radicais e afixos e daí saiu o prato de macarrão; as melhores guitarras no show. Uns denegrindo até Camões no tal de comprei um camões.
Na base, a preguiça que se insinua mais ainda na catacrese.
Coçando a cabeça, deixando o aió derribado,uns já colando dente com alho,cabeça com cebola…BRAÇO DE MAR! Olha isso!
Muita figura de linguagem, Professor, é prova de que havia um jeca tatu morgado na formação das palavras.
Os poetas, vá lá, uns se animam edificando metonímias mais sustentáveis.
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Sim, Rose. Um dos fatores que desencadeou a decadência da retórica clássica foi o excesso de nomes de figuras, que ao fim e ao cabo eram as mesmas. Chegou uma hora em que era impossível alguém saber o nome de todas as figuras. O outro foi que eles passaram a fazer as figuras apenas como ornamentos do discurso, deixando de considerar sua função retórica propriamente, a de persuadir.
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Professor Ernani Terra, um grande mestre da língua PORTUGUESA, Grato pela sua obra, que deus te proteja sempre.
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Valeu, Elenilton. Um abraço.
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Uau! Adorei a simplicidade das palavras e os exemplos de fácil compreensão. Parabéns pela dedicação de forma empática a transmitir conhecimento!
Que bom que encontrei seu blog , será muito útil em meus estudos !
Obrigado !
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Carlos Eduardo, obrigado pelas suas gentis palavras.
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ótimo texto
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