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E. M. Forster é um autor de quem gosto bastante. Dele, já tinha lido os romances Uma passagem para a Índia, Um quarto com vista, Howard Ends e o clássico livro teórico Aspectos do romance, ao qual volto sempre. Não tinha ainda lido Maurice porque amigos meus me dissuadiram disso, argumentando que esse romance de Forster era bastante ruim. O principal defeito que apontavam era a falta de verossimilhança relacionada à contenção platônica de uma das personagens centrais.
Mês passado, lendo o livro Os jovens infelizes: antologia de ensaios corsários, de Pier Paolo Pasolini (editora Brasiliense), me deparei, num dos ensaios, com uma passagem em que o cineasta italiano faz referência ao livro de Forster para sustentar determinado ponto de vista. Pasolini, ao contrário dos meus amigos, revela que gostou bastante do livro e chega a classificá-lo como um “estupendo romance”.
Resolvi então ler o romance, que é de 1914, mas só foi publicado em 1971, após a morte do autor, conforme era seu desejo. Li praticamente numa sentada.
Entre a opinião de meus amigos e a de Pasolini, fico com Pasolini. O romance é muito bom e merece ser lido. Assim como outros romances de Forster, Maurice foi adaptado para o cinema com o mesmo título. Não assisti ao filme ainda, mas estou tentado a isso.
Há ainda no livro (a publicação é da editora Globo, com tradução de Marcelo Pen) um “bônus”. No final, há uma nota do autor (a ‘Nota final’ é de 1960) esclarecendo por que não quis que o livro fosse publicado em vida. Nela, Forster revela ainda o processo de criação do enredo (“Se o leitor souber demais acerca do que se sucederá, poderá aborrecer-se. Se souber de menos, poderá ficar perplexo.”), a construção dos personagens, a seleção dos leitores críticos e a escolha do desfecho da história. Em virtude do final que acabou escolhendo, acreditava que o romance não seria publicado na época e justifica o porquê.
Na ‘Nota final’, E. M. Forster dá uma aula de como se constrói uma narrativa ficcional.