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Volta e meia, vejo comentários sobre as melhores frases que iniciam obras literárias. Algumas são sempre citadas como “Trata-me por Ishmael.” (Moby Dick, de Herman Melville) e “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. (A metamorfose, de Franz Kafka).
Poderia aumentar as referências citando:
“Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”. (início de Ana Karienina, de Leon Tolstói)
“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”. (início de Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez)
“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta”. (início de Lolita, de Vladimir Nabokov)
“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que os meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se contasse qualquer coisa íntima sobre eles. São um bocado sensíveis a esse tipo de coisa, principalmente meu pai. Não é que eles sejam ruins — não é isso que estou dizendo — mas são sensíveis pra burro”. (início de O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger)
Dos romances nacionais, não poderia deixar de citar o início de O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos:
“Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis”.
Notem que os exemplos citados são apenas de textos em prosa. Se fosse citar inícios de poemas, a lista cresceria muito e certamente começaria pelos primeiros versos da Divina Comédia, de Dante.
“No meu do caminho desta vida / achei-me a errar por uma selva escura, / longe da boa via, então perdida.”
Nunca vi, no entanto, comentários sobre ótimas frases que fecham romances. Lendo o Alexis ou o tratado do vão combate, de Marguerite Yourcenar, um romance epistolar, ao chegar ao final, deparo-me com a frase:
“Perdoa-me, não por te deixar, mas por ter ficado tempo demais”.
Frase digna de entrar em qualquer lista de melhores finais de romances.
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Frase final? Esta aqui, de Quincas Borba (Machado de Assis):
“O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”
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Muito bom.