Hiperônimos e Hipônimos

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No último post, ao falar sobre coesão, afirmei que ela pode ser lexical quando o termo é retomado por sinônimo, hiperônimo e hipônimo. Neste, discuto os dois últimos conceitos e aproveito para falar também de meronímia e holonímia.

Dizemos que há hiponímia entre palavras quando a relação de sentido que se estabelece entre elas é da mais específica para a mais genérica. Cardiologista é, portanto, hipônimo de médico. Se olharmos a relação de sentido entre o mais genérico para o mais específico temos hiperonímia. Médico é, portanto hiperônimo de cardiologista. Em síntese: hipônimo é aquela palavra que com relação a uma outra tem significado mais específico. Hiperônimo é aquela palavra que em relação a uma outra tem significado mais abrangente. A seguir, apresento mais alguns exemplos.

hiperônimo      hipônimos
médico               ortopedista, pediatra, oncocologista
animal                cachorro, gato, leão, onça, vaca
árvore                palmeira, carvalho, ipê, peroba
fruta                   maçã, laranja, uva, pêssego
imóvel               casa, apartamento, sítio, chácara
militar                cabo, sargento, tenente, capitão
calçado              sapato, bota, sandália, chinelo

Hipônimos e hiperônimos, por serem denominações distintas aplicáveis a um mesmo referente, funcionam, como afirmei no post anterior, como importantes elementos de coesão textual, na medida em que retomam expressões textuais sem repeti-las como podemos observar nos trechos a seguir.

“Um índio saiu à procura de frutas e de mel. Mas o que encontrou foi a onça. A fera atirou-se contra ele. Lutaram durante algum tempo, mas logo o homem, idoso como era, percebeu não poder aguentar”. 
DONATO, Hernâni. Contos dos meninos índios. São Paulo: Melhoramentos, 2005, p.42.

O termo fera retoma o termo onça e o termo  homem retoma o termo índio. Primeiro são apresentados os termos mais específicos (hipônimos) que são retomados anaforicamente por temos mais abrangentes (hiperônimos).

Peixe-boi: história e lenda
É provável que o peixe-boi tenha tido sua origem há mais ou menos 45 milhões de anos. Desde os primeiros contatos com o homem, este mamífero de águas doces e salgadas despertou muito interesse. O tamanho impressionava e levava os pescadores a temerem o animal.
Disponível em www.projetopeixe-boi.com.br

Nesse texto, o termo peixe-boi é um hipônimo, retomado anaforicamente pelos hiperônimos mamífero e animal. Como há três  termos na relação, o termo médio mamífero é hiperônimo em relação a peixe-boi, mas hipônimo em relação a animal.

Como se pode observar pelos exemplos acima, as retomadas anafóricas costumam se dar pelo hiperônimo e não pelo hipônimo. Como o termo mais específico já foi introduzido, retomá-lo pelo termo mais genérico não prejudica a legibilidade. Quando se procede de maneira inversa, introduzindo primeiro o hiperônimo e retomando-o por meio de hipônimos o processamento do texto fica mais difícil como podemos observar no trecho a seguir

É provável que o animal tenha tido sua origem há mais ou menos 45 milhões de anos. Desde os primeiros contatos com o homem, este mamífero de águas doces e salgadas despertou muito interesse. O tamanho impressionava e levava os pescadores a temerem o peixe-boi.

Como se pode notar, há um caráter hierárquico na relação hipônimos e hiperônimos e é por isso que podemos dizer que um camelo é um animal, uma tainha é um peixe, um cedro é uma árvore; mas não podemos dizer que um animal é um camelo, que um peixe é uma tainha e que uma árvore é um cedro.

No dicionários, hipônimos são definidos a partir de hiperônimos, como se pode observar nos verbetes a seguir, extraídos do Dicionário Aurélio eletrônico:

sapato

  1. m.

Calçado, em geral de sola dura, que cobre o pé.

 bota

  1. f.

Calçado de couro ou borracha que envolve o pé, a perna e, às vezes, a coxa.

 sandália

  1. f.

Calçado feito de uma sola presa ao pé por tiras ou cordões.

chinelo

  1. m.

Calçado macio, geralmente sem salto, para uso doméstico; chinela.

Um caso particular de hiperônimos são aquelas que os lexicógrafos chamam de palavas-ônibus, aquelas que possuem tantas acepções, que servem  como hiperônimos a ideias bastantes diferentes. As palavras-ônibus são mais comumente empregadas na variedade popular do português brasileiro e seu nome é bastante significativo, pois dentro dessas palavras cabem inúmeros conceitos, sejam concretos, abstratos, ações, sentimentos etc. Como exemplos cito as palavras coisa e troço.

Meronímia e holonímia

Falei na seção anterior que as relações entre hiperônimos e hipônimos compreendem uma hierarquia de sentido entre as palavras. O hiperônimo é mais abrangente que o hipônimo. Outro tipo de hierarquia semântica é a que ocorre quando o significado de uma palavra decorre de uma parte constituinte de outra.

Ocorre meronímia entre palavras quando a relação de sentido que se estabelece entre elas é de uma parte em relação ao todo. Por exemplo: as palavras porta, janela, sala, cozinha, quarto, banheiro estão em relação meronímica com a palavra casa. Dizemos que essas palavras são merônimos da palavra casa. Se olharmos a relação de sentido do todo para as partes, temos holonímia. Casa é, portanto holônimo de porta, janela, sala, cozinha, quarto e banheiro. A seguir, apresento mais alguns exemplos:

holônimo          merônimo
escola                carteira, giz, apagador, lousa
carro                  freio, câmbio, embreagem, acelerador
peixe                  escama, espinha, guelra
homem              pé, mão, cabeça, tronco, barriga
cabeça                testa, cabelo, olhos, nariz, boca
Por Ernani Terra © Autorizada a reprodução total ou parcial deste artigo, desde que citada a fonte.

 

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