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Uma das qualidade dos textos é a concisão. Ser conciso significa usar o número de palavras estritamente necessário para transmitir uma ideia. Concisão opõe-se a prolixidade. Ser prolixo é usar mais palavras do que o necessário para exprimir uma ideia, é não ir direto ao assunto, é ficar dando voltas. Na linguagem popular, é ficar enchendo linguiça. Se a concisão é algo a ser buscado; a prolixidade é algo a ser evitado. Alguns procedimentos linguísticos ajudam a tornar os textos mais concisos. Neste post, comento alguns deles.
· Uso de orações reduzidas. No período composto por subordinação, a oração subordinada pode aparecer na forma desenvolvida, isto é, introduzida por um conectivo, ou na forma reduzida. Nesse caso, não será introduzida por conectivo e apresentará verbo em uma das formas nominais: infinitivo, gerúndio, e particípio. Substituir uma oração desenvolvida por uma reduzida é uma forma de “economizar” palavras, tornando assim o enunciado mais conciso.
· Uso de elipses. Elipse é a omissão de um termo facilmente recuperado na frase, ou porque está implícito na desinência do verbo, ou porque foi mencionado anteriormente. A omissão de palavras que podem ser subentendidas, desde que não interfira na clareza, é uma forma de obter concisão. Veja, como o Padre Vieira, torna o enunciado enxuto. O termo “o tempo”, que aparece na primeira oração, é omitido nas demais: “Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba” (Sermão da Quinta Dominga da Quaresma). Note ainda que a repetição do pronome tudo tem valor expressivo, contribuindo para a força argumentativa do enunciado.
· Uso de construções simples no lugar das perifrásticas. Em vez de usar uma expressão formada de verbo (fazer, tecer, dar, registrar, etc.) seguido de substantivo que funciona como complemento do verbo, é mais econômico usar um verbo do mesmo radical do substantivo. Por exemplo, pode se trocar registrar uma observação e fazer uma pergunta por observar, perguntar, respectivamente. Em vez de dar uma opinião, pode-se dizer opinar; em vez de tecer um comentário, pode-se dizer comentar.
· Evitar redundâncias. Redundância tem a ver com o que é excessivo, com o que está a mais. O uso de redundâncias implica, portanto, prolixidade.
São exemplos de redundâncias os pleonasmos e as tautologias. Pleonasmo é a repetição desnecessária de uma ideia. Em expressões “como foi dito anteriormente”, “há dois anos atrás”, “projetos para o futuro”, “protagonista principal”, “exportar para fora” e “panturrilha da perna”, os termos anteriormente, atrás, para o futuro, principal, para fora e da perna estão constituindo pleonasmos e podem, portanto, ser eliminados sem prejuízo algum ao sentido.
A tautologia consiste em se dizer uma mesma coisa por meio de outras palavras. Costuma aparecer com alguma frequência em textos argumentativos. Na verdade, trata-se de um falso argumento. Algumas pessoas fazem uso de tautologias para sustentar um ponto de vista quando não têm argumentos consistentes.
Quando alguém diz, por exemplo, “fumar é prejudicial à saúde, porque prejudica o organismo”, tem-se uma tautologia. Nesse caso, não se está apresentando nenhum argumento que justifique a afirmativa de que fumar é prejudicial à saúde. Na verdade, aquilo que seria a justificativa (porque prejudica o organismo) repete com outras palavras o ponto de vista que se quer demonstrar.
Veja outros exemplos de tautologia.
Ele morreu porque deixou de viver.
O atleta foi o primeiro colocado porque chegou em primeiro lugar.
O Brasil é pentacampeão mundial de futebol porque ganhou a Copa do Mundo cinco vezes.
O ouro é valioso porque tem muito valor.
Lembro que nem toda a repetição deve ser considerada um problema de redação. Em muitos casos, repete-se intencionalmente, enfatizando uma ideia, quase sempre com finalidades argumentativas. Quando alguém diz, argumentando, “guerra é guerra”, o que, em princípio, se configuraria num argumento circular (definir uma coisa por ela mesma) têm grande força expressiva (e argumentativa) na medida em que num enunciado extremamente conciso se traduz uma ideia que obrigaria o uso de mais palavras para ser expressa, qual seja, a de que na guerra certos valores, regras e condutas costumam ser ignorados ou não respeitados, ou ainda, em situações de guerra (e por extensão de conflitos), as pessoas não se sujeitam às normas de situações não conflitantes.
Encerrando essas considerações sobre concisão, exemplifico como se pode “enxugar” um enunciado, observando os procedimentos apontados.
Assim que encerrou a aula, o professor disse que ele tinha planejado para a próxima aula responder a todas as perguntas que os alunos tinham feito, porque as perguntas dos alunos eram muitas.
Eliminando o desnecessário, teríamos:
Encerrada a aula, o professor disse que planejara para a próxima responder a todas as perguntas, porque eram muitas.
Das 33 palavras (na verdade 32, pois assim que é uma locução conjuntiva e deve ser contada como uma palavra e não como duas), na reescrita ficaram 19. Uma bela enxugada. O que fiz?
Tranformei a oração desenvolvida “Assim que encerrou a aula” em uma reduzida “Terminada a aula”. Substití o tempo composto “tinha planejado” pelo tempo simples “planejara”, além de se omitir o sujeito “ele”. Omiti ainda o substantivo “aula” depois de “próxima”, porque foi mencionado anteriormente e por isso pôde ficar implícito. Eliminei a oração “que os alunos tinham feito” por ser redundante. Na última oração, a expressão “as perguntas dos alunos” nada acrescenta, é redundante, por isso pôde ser suprimida sem prejuízo algum ao sentido.
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