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Hoje, trago o conto “Gente boa da roça”, de Flannery O’Connor, escritora norte-americana do estado da Geórgia, onde nasceu em 1925. O’Connor estudou no Georgia State College for Women, onde se formou em Ciências sociais. Em 1946 conseguiu vaga na célebre Oficina de escrita criativa da Universidade de Yowa. Em 1955, publica a coletânea de contos Um homem bom é difícil de encontrar, da qual faz parte o conto “Gente boa da roça” comentado a seguir. Flannery O’Connor faleceu em 1964.
Antes de falar sobre o conto, gostaria de dizer algumas palavrinhas sobre a produção literária da autora. O’Connor é uma das principais representantes de um estilo denominado “gótico sulista”. Sua obra retrata a decadência do Sul norte-americano e questões ligadas à relação homem / Deus, destacando a brutalidade e a violência do homem pela falta de uma relação com o divino. Seus contos se caracterizam por um realismo exacerbado e chocante, mas com pitadas de um humor ácido. Podem ser classificados com contos de horror.
Em português, há uma ótima coletânea de contos de O’Connor, sob o título Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias, que apresenta dez contos, traduzidos por Leonardo Fróes, numa bela edição em capa dura da Editora Nova Fronteira.
“Gente boa na roça” tem por história central a chegada de um rapaz simples, da roça, à casa de uma viúva, a sra. Hopewell, que vive na propriedade com a filha Allegra, que resolve mudar seu nome para Hulga, e com uma família que fora contratada para servir de criada.
Allegra / Hulga, na época dos acontecimentos narrados no conto, tinha 32 anos. Doutorara-se em filosofia e tinha uma perna de pau, por causa de um acidente que sofrera quando tinha dez anos de idade: levara um tiro que lhe estilhaçara o membro.
Num determinado dia, um jovem bastante simples, com 19 anos de idade, aparece na propriedade e se apresenta como vendedor de bíblias. A sra. Hopewell diz a ele que não tem interesse e que está muito atarefada no momento preparando o almoço. O rapaz, que se diz chamar Manley Pointer, no entanto, insiste na conversa que é ouvida por Allegra / Hulga. O rapaz acaba sendo então convidado para almoçar com a família.
Ao se despedir, tem uma conversa com Allegra / Hulga. No dia seguinte se encontram e vão sozinhos a um celeiro. Lá, trocam beijos e se veem seduzidos um pelo outro. Esse clima amoroso é interrompido porque o vendedor de bíblias que saber em que lugar Allegra / Hulga engatava a perna de pau. De início, ela se sente constrangida em mostrar-lhe, mas dada a insistência do rapaz, não só acaba mostrando, como tirando a perna do engate, que era no joelho.
Sem a perna, continuam as carícias e ela se entrega a ele. Após a relação amorosa, Allegra / Hulga pede ao rapaz para que devolva a perna. O vendedor não devolve apesar dos incessantes pedidos. Se não bastasse, coloca a perna numa mala que usava para carregar as bíblias e que agora está vazia e vai embora do local, deixando Allegra / Hulga sozinha no celeiro e sem a perna para poder de lá sair. Ao ir embora, ainda diz para Allegra / Hulga:
“Com outra mulher, assim também, consegui até um olho de vidro uma vez. E é bobagem pensar em me pegar, porque na verdade eu não me chamo Pointer. Uso um nome diferente em cada casa em que entro e nunca fico muito tempo num ligar só”.