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Neste post, trato de um escritor pouco divulgado entre nós, o conde Auguste Villiers-de-L’Isle-Adam (1838-1889), conhecido por seus contos cruéis. Borges e Italo Calvino citam A tortura pela esperança como exemplo de excelente conto fantástico. Borges adorava esse conto e o incluiu na sua famosa Antologia da literatura fantástica, que organizou junto com Silvina Ocampo e Bioy Casares. Italo Calvino diz que é um dos exemplos mais perfeitos de conto fantástico puramente mental e só não incluiu na sua antologia “para não repetir escolhas alheias”. Villiers tinha por amigo Baudelaire, por meio do qual conheceu Poe, Theophile Gautier, Wagner e Mallarmé. A seguir, falo do conto A tortura pela esperança, o primeiro do livro Flores fúnebres e outros contos cruéis, traduzido por Camilo Prado e publicado pela Editora Nephelibata em 2009, numa excelente edição numerada de apenas 50 exemplares.
Narrado em terceira pessoa, a ação se passa na Espanha na época da Inquisição. Os inquisidores descem a um calabouço onde está preso há mais de um ano o rabino Aser Abarbanel, um judeu aragonês, acusado pelo Santo Ofício de usura e desdém pelos pobres. Embora torturado todos os dias, não abjura sua religião. Num determinado momento, um dos inquisidores vai visitá-lo e diz ao rabino que os tormentos chegaram ao fim, pois no dia seguinte seria “exposto ao quemadero, braseiro premonitório da eterna Chama: ele queima […] e a morte leva pelo menos duas horas (às vezes três) para chegar […]”.
Quando o inquisidor vai embora, o rabino observa que a porta de sua cela não fora corretamente fechada e que, portanto, poderia empreender a fuga. Sai arrastando-se por um longo corredor. Em determinado momento, vê dois dos inquisidores conversando, um deles olha para ele, mas não o vê. O rabino começa a pensar que deve estar morto, mas continua a se arrastar até o fim do corredor, onde encontra uma porta. Por sorte não está trancada, “a porta abriu para um jardim, para uma noite estrelada! para a primavera, a liberdade, a vida!”. Mas lá fora lá fora encontra o Grande Inquisidor, que carinhosamente o abraça. O rabino compreende então “que todas as fases do fatal entardecer não eram mais do que um suplício previsto, o da Esperança!“. O Grande Inquisidor chega então ao ouvido do rabino e lhe diz ao ouvido em tom de censura:
“- Ah que coisa, meu filho! À véspera, talvez, da salvação, vós queríeis nos deixar!”
A tortura pela esperança é, como o título da obra indica, um conto cruel, uma espécie de subgênero do conto de terror, e tem coisas em comum com um dos contos de terror que mais aprecio, O poço e o pêndulo, de Edgar Allan Poe. A epígrafe de A tortura pela esperança é uma fala de O poço e o pêndulo.
A tortura pela esperança aparece também numa edição mais acessível ao público em tradução de Ecila de Azeredo Grünewald no livro Contos de horror do século XIX: escolhidos por Alberto Mangel, publicado pela Companhia das Letras.
Narrado em terceira pessoa, a ação se passa na Espanha na época da Inquisição. Os inquisidores descem a um calabouço onde está preso há mais de um ano o rabino Aser Abarbanel, um judeu aragonês, acusado pelo Santo Ofício de usura e desdém pelos pobres. Embora torturado todos os dias, não abjura sua religião. Num determinado momento, um dos inquisidores vai visitá-lo e diz ao rabino que os tormentos chegaram ao fim, pois no dia seguinte seria “exposto ao quemadero, braseiro premonitório da eterna Chama: ele queima […] e a morte leva pelo menos duas horas (às vezes três) para chegar […]”.
Quando o inquisidor vai embora, o rabino observa que a porta de sua cela não fora corretamente fechada e que, portanto, poderia empreender a fuga. Sai arrastando-se por um longo corredor. Em determinado momento, vê dois dos inquisidores conversando, um deles olha para ele, mas não o vê. O rabino começa a pensar que deve estar morto, mas continua a se arrastar até o fim do corredor, onde encontra uma porta. Por sorte não está trancada, “a porta abriu para um jardim, para uma noite estrelada! para a primavera, a liberdade, a vida!”. Mas lá fora lá fora encontra o Grande Inquisidor, que carinhosamente o abraça. O rabino compreende então “que todas as fases do fatal entardecer não eram mais do que um suplício previsto, o da Esperança!“. O Grande Inquisidor chega então ao ouvido do rabino e lhe diz ao ouvido em tom de censura:
“- Ah que coisa, meu filho! À véspera, talvez, da salvação, vós queríeis nos deixar!”
A tortura pela esperança é, como o título da obra indica, um conto cruel, uma espécie de subgênero do conto de terror, e tem coisas em comum com um dos contos de terror que mais aprecio, O poço e o pêndulo, de Edgar Allan Poe. A epígrafe de A tortura pela esperança é uma fala de O poço e o pêndulo.
A tortura pela esperança aparece também numa edição mais acessível ao público em tradução de Ecila de Azeredo Grünewald no livro Contos de horror do século XIX: escolhidos por Alberto Mangel, publicado pela Companhia das Letras.
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Incrível!Em retribuição, permitir-me sugerir o filme argentino, Netflix, indicado ao Oscar “Cidadão ilustre.” Conta a história de um Nobel de literatura que volta a terra natal. Não percaé ótimo. Abração, mestre!
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Assisti ontem. Ótimo. A volta dele à cidade natal revira tudo de cabeça para baixo.