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’99 conselhos de escrita’ é o subtítulo do livro Sem trama e sem final. publicado pela Martins Fontes. A autoria, como consta na capa, é de Anton Tchékhov.
O livro pode ser lido numa sentada, afinal são apenas 109 páginas. O livro é leitura enriquecedora, espacialmente para aqueles que se dedicam à escrita. Faço alguns esclarecimentos para evitar surpresas desagradáveis. Tchékhov não escreveu esse livro. Trata-se de uma coletâneas de trechos de cartas do autor russo, agrupadas por temas relativos à escrita, particularmente à escrita literária. A seleção e a organização dos trechos é do professor Piero Brunello da Universidade Ca’ Foscari de Veneza. A tradução para o português é do saudoso Homero de Freitas Andrade.
O subtítulo pode enganar o leitor desavisado. Tchékhov não era o que chamamos hoje de coach. O livro não é monte de dicas fáceis de como escrever bem. Não se trata de livro tipo auto-ajuda com regrinhas, mas comentários, observações e sugestões que Tchékhov faz a interlocutores específicos, identificados no livro, sobre textos específicos. Embora o livro não reproduza a cartas (ou o trecho dela) que o autor russo comenta em sua resposta, pelos comentários que ele faz é possível saber qual problema de redação ele comenta e aproveitar as úteis observações e sugestões que ele propõe.
Os temas abordados são variados: o trabalho do escritor, o título da obra, a dedicatória, palavras estrangeiras, parênteses, travessões e aspas, atributos e advérbios, mas um é recorrente, concisão. Tchékhov era obcecado pela escrita concisa. Numa carta à escritora Lídia Avílola, com quem manteve vasta correspondência, o autor de Tio Vânia lhe dá a seguinte sugestão:
“Escreva um romance. Leve um ano para escrevê-lo, mais meio ano para reduzi-lo e então publique. Você faz poucos remates, ao passo que uma escritora deve não escrever, mas bordar no papel, para que o trabalho seja demorado e meticuloso”.
Numa carta a Maksim Górki, pede que,
“ao fazer a revisão, corte, onde possível, os atributos dos substantivos e dos verbos. Você coloca tantos atributos que fica difícil para a atenção do leitor não se perder e ele se cansa. É compreensível quando escrevo ‘o homem sentou-se na grama’; é compreensível por ser claro e não reter a atenção. Ao contrário, é pouco inteligível e pesado para o cérebro, se escrevo: ‘um homem alto, de peito cavado, porte discreto e barbicha ruiva sentou-se na grama verde, já pisoteada pelos transeuntes; sentou-se sem fazer ruído, olhando tímida e temerosamente à sua volta’. Isso demora um pouco a entrar no cérebro e a literatura deve entrar imediatamente, num átimo.”
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