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Em 1973, um jovem e entusiasmado aluno de Letras da FFLCH-USP, que também amava poesia, correu mais de uma vez ao Teatro Cacilda Becker para assistir a um espetáculo teatral, dirigido por Flávio Império, a partir de uma ideia de Walmor Chagas (1930 – 2013), chamado Labirinto: balanço da vida.
Walmor, sozinho em cena, dizia poemas (ou trechos de poemas) de vários autores, como Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Rimbaud, D.H.Lawrence, José Régio. Até hoje, 46 anos passados, o ainda jovem e não menos entusiasmado estudante de Letras tem na lembrança alguns dos poemas ditos por Walmor.
O tempo não conseguiu apagar da sua memória poemas como A barca da morte, de D.H. Lawrence e Cântico Negro, de José Régio, entre outros.
Ontem à noite veio à cabeça do estudante uns versos de um poema de Maiakovski que Walmor dizia no espetáculo. O estudante lembrou os versos, mas a mente cansada, não conseguia pô-los na ordem em que aparecem no poema. A mente, obnubilada, impedia que o sono chegasse. Começou a se sentir como o Pestana, de O homem célebre, do Machado. Desesperou-se e teve de recorrer à internet para achar a ordem em que Vladimir Maiakovski dispôs os versos de
Comumente é assim
Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.
PS.: o jovem estudante de Letras ficaria extremamente agradecido se não perguntassem a ele por que o poema de Maiakovski lhe veio à cabeça.
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E eu que nem me pinto, Ernani… Que maravilha de poema!