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No post dedico algumas poucas linhas a um contista não muito lido entre nós, o que é uma pena, pois seus contos são verdadeiras obras-primas. Falo de Bruno Schulz, um escritor judeu de origem polonesa, nascido em 1892 e assassinado em plena rua por um oficial nazista em 1942.
A antiga editora Cosac Naify havia lançado em 2012 um volume com a ficção completa do autor, com tradução e posfácio de Henryk Siewierski e depoimento de Witold Gombrowicz, numa belíssima edição com capa dura e papel de qualidade, com ilustrações do autor, que era também desenhista.
Com o encerramento das atividades da Cosac Naify, o livro virou raridade. Em 2019, a Editora 34 lançou o livro Lojas de canela e outras narrativas, também com tradução de Henryk Siewierski. Creio que não se trata de ficção completa, pois o livro tem 224 páginas ( o Ficção completa, da Cosac Naify, tem 416 páginas).
Um dos contos de que mais gosto do livro é As baratas. A ação se passa em dias cinzentos de longas semanas de depressão. O clima depressivo é consequência da morte do pai do narrador, um homem que nunca fora amado por uma mulher e que por isso vivia na periferia da existência.
O narrador resolve interrogar a mãe para saber das mentiras que ela anda falando do pai dele. Ao que ela retruca, dizendo que não é mentira alguma e que a história das baratas é verdadeira. Houve de fato uma invasão de baratas na casa e o filho lembra-se do terror que isso causou no pai (a descrição desse trecho é assustadora). O narrador lembra que, a partir daí, o pai mudou e o horror passou a ser a sua marca. A família renuncia ao pai, que vai se transformando, até virar uma barata.
Sempre achei Bruno Schulz um Kafka lírico, as porradas que ele nos dá são com luvas de pelica, mas machucam tanto que deixam uma cicatriz na cara. Quem leu Bruno Schulz tem essa profunda cicatriz no rosto que só outro leitor de Bruno Schulz é capaz de ver.