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O melhor da literatura latino-americana contemporânea tem vindo de autoras mexicanas. Gosto muito de Guadalupe Nettel, de Beatriz Rivas e de Valeria Luiselli, cujo romance Rostos na multidão (Alfaguara) foi muito bem recebido entre nós. A mexicana chega agora com novo livro, lançado no Brasil novamente pela Alfaguara, Arquivo das crianças perdidas.
Num carro, um casal com os dois filhos de casamentos anteriores, um menino de 10, filho dele, e uma menina de 5, filha dela, vão de Nova York para o Arizona. Durante a viagem, leem (um dos livros que mais comentam é O senhor das moscas, de William Golding), ouvem música (muito David Bowie), tiram fotos (usam uma Polaroid e as fotos são mostradas no final do livro).
O marido quer chegar à Apacheria e passa o tempo contando às crianças as histórias de Gerônimo e de Cochise. A mulher, uma jornalista, está bastante envolvida com o problema de crianças que desaparecem ao cruzarem a fronteira para os Estados Unidos. À medida que a viagem avança, a relação do casal vai se dissolvendo e as crianças vão tomando conhecimento de que existem crianças refugiadas. Numa passagem, a menina pergunta à mãe: “O que são refugiadas?” e a mãe pensa em responder “Uma criança refugiada é alguém que espera”, mas acaba dizendo “é alguém que precisa encontrar um novo lar”.
A história é narrada sob três pontos de vista, o da mãe, o do filho e de um narrador em terceira pessoa (narrativa emoldurada dentro da narrativa principal, “Elegias para crianças perdidas”) com inúmeras referências intertextuais, muitas delas explicitadas nas notas explicativas ao final da obra.
Como se depreende do título, o livro traz à tona problemas que ultimamente têm se agravado: o da crise migratória para os Estados Unidos e o das crianças que vêm de cidades pobres e violentas e que se veem perdidas quando cruzam a fronteira. Fica a dica.