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Por Ernani Terra ©
Hoje, comento um assunto que todos já ouviram falar quando passaram pelos banco escolares: palavras antônimas, ou simplesmente antônimos. Ninguém tem dúvida de que alto / baixo são antônimos, pois se trata de palavras que se opõem pelo sentido.
Em princípio, usamos o termo antonímia para designar oposição de sentido e as palavras que se opõem são denominadas antônimas, como nos pares a seguir:
morto / vivo ; solteiro / casado ; macho / fêmea; alto / baixo; velho / novo; quente / frio; grande / pequeno; comprar / vender; pai / filho; honesto / desonesto; feliz / infeliz; exportar / importar; ir / vir; chegar / partir; perguntar / responder; oferecer / aceitar; nascer / morrer
Observando os pares de palavras acima, podemos concluir que as oposições de sentido não se realizam de uma mesma forma.
Pares como alto / baixo, quente / frio podem ser considerados em termos graduais: mais alto, muito alto, pouco alto, menos baixo, muito baixo, pouco baixo; mais quente, pouco quente, muito quente, menos frio, muito frio, pouco frio. Além disso, nesses pares, há termos intermediários. Entre o quente e o frio, temos o morno; entre o alto e o baixo, temos o mediano. Gramaticalmente falando, são palavras que admitem a flexão de grau (comparativo ou superlativo): mais alto que , menos frio que, tão quente quanto, altíssimo, muito alto, baixíssimo, bastante baixo.
Isso não ocorre em pares como solteiro / casado e morto / vivo, em que um exclui o outro: se uma pessoa é casada, ela não pode ser solteira; se ele está viva não pode estar morta e vice-versa. Esses antônimos costumam ser designados por complementares.
Em pares como pai / filho , marido / mulher e comprar / vender, há uma relação de inversão: se A é pai de B, então B é filho de A; se A é marido de B, então B é mulher de A; se A compra de B, então B vende a A.
Nos pares honesto / desonesto, feliz / infeliz e exportar / importar, a relação de antonímia é marcada por prefixos (des-, in-, ex– e in-). Em pares como ir / vir e chegar / partir, a oposição de sentido está ligada ao referente espacial: vou a Recife, se estou em lugar diferente de Recife; venho de Recife se de lá parti.
Em pares como perguntar / responder e oferecer / aceitar, não há propriamente oposição de sentido, mas relação temporal: se pergunto, espero que respondam; se ofereço, espero que aceitem.
No par nascer / morrer, não há também relação de oposição de sentido: nascer não é o contrário de morrer. Tais verbos indicam momento extremos e diferentes de um processo mais amplo, que é o ato de viver.
Como se pode notar, as relações de oposição de sentido entre palavras é variada e há casos que nem há propriamente oposição de sentido. Proponho uma classificação bastante simples e didática, lembrando que o importante não é a nomenclatura, mas perceber as diferentes relações de oposição que os antônimos estabelecem entre si. A classificação que proponho é a seguinte:
a) antônimos dicotônimos: macho / fêmea, casado / solteiro, vivo / morto, verdade / mentira
b) antônimos graduais: quente / frio, alto / baixo, longe / perto
O que diferencia uns dos outros é o fato de os antônimos graduais admitirem variação de grau e termos médios. Nos antônimos dicotômicos, isso não ocorre: ou se está morto, ou se está vivo; não há um termo médio, nem variação de grau. Ressalto que uma frase como Estou mais morto que vivo só pode ser entendida em sentido figurado.
Quanto ao par verdade / mentira, é comum, sobretudo na esfera do discurso político, ouvir-se a expressão Isso é uma meia verdade. Trata-se, evidentemente, de um recurso retórico para dizer eufemisticamente que se trata de uma mentira.
A aproximação de palavras que se opõem pelo sentido é um excelente recurso para dar vivacidade aos textos, conferindo a eles efeitos persuasivos. Vejam como Charles Dickens começa seu romance Conto de duas cidades.
Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da razão, a idade da insensatez, a época da crença, a época da incredulidade, a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero, tínhamos tudo diante de nós, não tínhamos nada diante de nós, todos iríamos direto ao Paraíso, todos iríamos direto ao sentido oposto – em suma, a época era tão parecida com o presente que algumas autoridades mais ruidosas insistiram que ela fosse recebida, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo de comparação.
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O texto é de minha autoria. Alguns trechos já foram publicados em livros meus; outros foram escritos especialmente para esse post.